quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

TEMPO (Carlos Drummond de Andrade)



Quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias, a que se deu o nome de ano, foi um indivíduo genial. Industrializou a esperança fazendo-a funcionar no limite da exaustão.

Doze meses dão pra qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos. Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez com outro número e outra vontade de acreditar que daqui para adiante vai ser diferente...

Para você,
Desejo o sonho realizado.
O amor esperado.
A esperança renovada.

Para você,
Desejo todas as cores desta vida.
Todas as alegrias que puder sorrir.
Todas as músicas que puder emocionar.

Para você neste Ano Novo ,
Desejo que os amigos sejam mais cúmplices,
Que sua família seja mais unida,
Que sua vida seja mais bem vivida,
Gostaria de lhe desejar tantas coisas,
Mas nada seria suficiente...

Então ,desejo apenas que você tenha muitos desejos,
Desejos grandes e que eles possam te mover a cada minuto ao rumo da sua Felicidade!!!

Carlos Drummond de Andrade

Que Deus abençoe os dias que virão, que sejam plenos de Paz e prósperos de Esperança e de Realizações


Sonia

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

O GUARDADOR DE REBANHOS (Fernando Pessoa)


(...) Ele mora comigo na minha casa a meio do outeiro.
Ele é a Eterna Criança, o deus que faltava.
Ele é o humano que é natural,
Ele é o divino que sorri e que brinca.
E por isso é que eu sei com toda a certeza
Que ele é o Menino Jesus verdadeiro.
E a criança tão humana que é divina
É esta minha quotidiana vida de poeta,
E é porque ele anda sempre comigo que eu sou poeta sempre,
E que o meu mínimo olhar
Me enche de sensação,
E o mais pequeno som, seja do que for,
Parece falar comigo.

A Criança Nova que habita onde vivo
Dá-me uma mão a mim
E a outra a tudo que existe
E assim vamos os três pelo caminho que houver,
Saltando e cantando e rindo
E gozando o nosso segredo comum
Que é o de saber por toda a parte
Que não há mistério no mundo
E que tudo vale a pena.
(...) 
Depois eu conto-lhe histórias das cousas só dos homens
E ele sorri, porque tudo é incrível.
Ri dos reis e dos que não são reis,
E tem pena de ouvir falar das guerras,
E dos comércios, e dos navios
Que ficam fumo no ar dos altos-mares.
Porque ele sabe que tudo isso falta àquela verdade

Que uma flor tem ao florescer
E que anda com a luz do sol
A variar os montes e os vales,
E a fazer doer aos olhos os muros caiados.

Depois ele adormece e eu deito-o
Levo-o ao colo para dentro de casa
E deito-o, despindo-o lentamente
E como seguindo um ritual muito limpo
E todo materno até ele estar nu.

Ele dorme dentro da minha alma
E às vezes acorda de noite
E brinca com os meus sonhos,
Vira uns de pernas para o ar,
Põe uns em cima dos outros
E bate as palmas sozinho
Sorrindo para o meu sono.
...................................
Quando eu morrer, filhinho,
Seja eu a criança, o mais pequeno.
Pega-me tu no colo
E leva-me para dentro da tua casa.
Despe o meu ser cansado e humano
E deita-me na tua cama.
E conta-me histórias, caso eu acorde,
Para eu tornar a adormecer.
E dá-me sonhos teus para eu brincar
Até que nasça qualquer dia
Que tu sabes qual é.
.......................................
Esta é a história do meu Menino Jesus,
Por que razão que se perceba
Não há de ser ela mais verdadeira
Que tudo quanto os filósofos pensam
E tudo quanto as religiões ensinam?
08-03-1914

QUE O MESTRE DA PAZ E DA VIDA ESTEJA PRESENTE EM SEU NATAL!!

domingo, 23 de setembro de 2012

A PRIMAVERA CHEGOU!!

(Primavera - J.C.Monet)

E com ela, as nossas esperanças se reavivam... é a Natureza a demonstrar que a vida, não obstante os empeços, as dificuldades, as tormentas, as tempestades, sempre trará de volta o sol, as flores, os campos, a brisa suave, a chuva refrescante, os ventos que limpam e renovam o ar...

Vamos continuar, com os compromissos assumidos, com os estudos aprofundados que libertam a nossa consciência, com o exercício da vida boa, da vida ética, do respeito ao outro, e à bela, magnífica Natureza que nos acolhe com sua beleza, dizemos, plenos de Vida e de Esperanças:
BEM-VINDA, PRIMAVERA!

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

(cont.) Reflexões sobre o Renascimento, o Humanismo e o prelúdio da Filosofia Moderna

Escola de Atenas (1509/10) - Rafael Sanzio

Durante o Renascimento, houve nos mais variados campos do conhecimento, um renovado interesse nas obras literárias, filosóficas, históricas e de artes plásticas produzidas pelos gregos e pelos romanos na Antiguidade. Além disto, o conhecimento daquele período serviu como modelo inspiração para artistas famosos que desta forma expressam sua admiração pelas realizações dos antigos. Um exemplo é a obra a “Escola de Atenas”, afresco pintado por Rafael Sanzio, entre 1509 a 1510; cm base nos dados apresentados, faça uma pesquisa sobre o quadro em fontes de notória cientificidade e aponte que pensadores são representados no centro do afresco. Feito isto, explique qual papel eles tiveram na filosofia do Renascimento.

No centro do afresco estão em pé Platão (427-347 a.C.), com sua obra Timeu nas mãos, e apontando com um dos dedos da mão direita para cima, gesto que representa a teoria das ideias, abstratas e intangíveis; ao seu lado, Aristóteles (384-322 a.C.), seu discípulo, com a mão direita num gestual em direção à terra, representando a percepção pelos sentidos, traz na mão esquerda o seu livro Ética a Nicômaco.
Fonte de Pesquisa : http://www.dm.ufscar.br/hp/hp902/hp902001/hp902001.html

“Rafael Sanzio foi sábio ao colocar no centro as figuras de Platão e Aristóteles já que ambos de certo modo monopolizam a Filosofia Antiga. Platão segurando o Timeu procura explicar o surgimento do mundo fugindo da explicação mítica. Umas das grandes marcas do pensamento platônico é o contraponto entre o mundo real (imperfeito, mutável) e o mundo inteligível (perfeito, eterno e absoluto, simbolizado pelo sol na Alegoria da Caverna e fonte da verdade, da justiça, das essências, etc...),acessível pela razão. Por isso Platão aparece apontando para o alto. Já Aristóteles, seu discípulo, segura a Ética a Nicômaco e tem a mão na horizontal, representando o terrestre, o mundo sensível e passível de ser conhecido e apreendido pela experiência, pela observação do real, etc. Além disso o mundo justo perseguido por Aristóteles passa pela prática do justo-meio, do equilíbrio e este passa pelas relações humanas.” (João José Buss)

A predominância do pensamento platônico na Renascença vem desde a Antiguidade, contudo a influência de Aristóteles naquele período ainda não foi totalmente avaliada dada a falta de dados que comprovem o alcance de tal influência (TARGA et al., 2011). O Humanismo propiciou o estudo mais abrangente da antiguidade grega e latina, que passaram a ser modelos ideais para os humanistas, que, em sua maioria, “conheciam os clássicos antigos e se formaram dentro da tradição de valorização do pensamento e Aristóteles, (...) predominante nas universidades da época, em que o ensino da filosofia escolástica perdurou até meados do século XVI”(ibidem). No Trecento, foi com Petrarca, considerado o pai do Humanismo que a educação toma novos ares, saindo do método quaestio para o estudo das humanae litterae, preconizando o que, em seu entendimento, era o mais importante, o conhecimento de si, que somente as disciplinas que promovessem conhecimentos, métodos e habilidades intelectuais, como a retórica, a oratória e o estudo das obras clássicas poderiam incentivar. Nota-se aí uma grande influência socrático-platonica.

A partir do século XV e XVI, o florescimento da magia – as coisas possuíam poderes ocultos – o trabalhos dos tradutores, como Marcílio Ficino, com sua abordagem platônica, plotiniana, bem como as tradições neoplatonica e neopitagórica influenciam as pesquisas sobre textos considerados herméticos e de procedência antiga, como os Oráculos Caldeus, e Hinos Órficos, por sua vez procedentes de uma antiga tradição órfica e que teria influenciado Platão e Pitágoras, posteriormente descobertos como sendo do helenismo tardio.
Na Itália, o interesse por Platão e pelos neoplatonistas como autores clássicos predomina sem contudo desprezar-se a influência escolástica sob a base de Aristóteles. A Academia de Florença conhecida como academia platônica reunia, sob a direção de Cosme de Médici escritores, filósofos, músicos e posteriormente artistas das artes plásticas, com especial interesse no mundo antigo.
A presença de Nicolau de Cusa, compreende neste período o lado da religião, que busca nos escritos platônicos, respaldo para o resgate da consciência cristã.
Segundo TARGA, “o filósofo mais discutido e influente no período renascentista foi Platão” (ibidem), considerando, segundo Kristeller, que Aristóteles, associado às estruturas da idade Média, por isso repudiado pelos Humanistas.
A discussão não se encerrou – a influência de ambos, Platão e Aristóteles predomina até os nossos dias; permanecemos todos sentados aos seus pés, como os demais pensadores analogicamente postados na pintura de Rafael, aguardando, na Escola de Atenas, que o seu pronunciamento se faça, e delibere sobre os tempos atuais, tão carentes de aprofundamento, quanto de ética.

Tivemos, como civilização, uma grande história, uma grande jornada até o momento. Fica a pergunta: o que nos impede de alavancar o Conhecimento em profundidade, em detrimento da vulgaridade de superfície que aparece em abundância?

(Disciplina: História da Filosofia III - prof. João J.Buss)

Reflexões sobre o Renascimento, o Humanismo e o prelúdio da Filosofia Moderna

Festim dos Deuses - Giovanne Bellini

Faça uma pesquisa, em fontes devidamente estabelecidas, sobre a relação entre o Renascimento e o Humanismo. Feito isto, elabore um texto, que tenha entre 10 e 15 linhas, explicando em que medida estes fenômenos romperam com a tradição filosófica da época medieval.

Sob o ponto de vista histórico, a Renascença é tida como um período fundador da idade moderna, porém há autores que divergem sobre esta afirmação. A modernidade engloba os primeiros sinais do processo de racionalização da sociedade, estabelecendo-se com o Iluminismo no século 18, porém é no século 19 que esta expressão “renascimento” é cunhada pelo historiador alemão Jacob Burckhardt (TARGA, et al., 2011). O Humanismo, por sua vez, se mescla com os primeiros albores da Renascença, caracterizando este período como aquele onde a valorização do homem superou a valorização teocêntrica vigente na época medieval. Segundo Rossi (ROSSI, 2004), os períodos mais contundentes para a mudança se deram no quatrocento e no quinquecento (ibid), ou seja, final do século 15 e princípio do século 16, com três fatores: a descoberta geográfica de novas terras, feita por Colombo e outros navegadores, a reforma luterana, quebrando a unidade centralizadora de Roma e do papado, e, em 1453 “Copérnico e Kepler substituem o sistema geocêntrico de Ptolomeu pelo heliocêntrico, perdendo a Terra a sua posição central dentro da criação, embora o manuscrito sobre a visão heliocêntrica já estivesse pronto desde 1507, e parcialmente difundido a partir daí” (ROSSI, 2004). Segundo Rossi, não foi por acaso que se juntaram neste momento Humanismo e Renascimento, coincidindo com “um repensar crítico das próprias certezas, à luz das novas situações recém-criadas.” Há uma tendência a “restituir os textos clássicos à sua dimensão histórica, à sua linguagem original”, visto que o período medieval ligou-se aos clássicos (Platão, Aristóteles), no sentido de dar apoio às teses religiosas e as verdades de fé. “O Renascimento constituiu, portanto, um dos mais prósperos movimentos intelectuais do Ocidente, mudando a imagem que o homem tinha de si mesmo (...). O pensamento da época passou a se nutrir cada vez mais da filosofia grega, graças ao trabalho dos humanistas” (TARGA, et al., 2011).
Fontes Bibliográficas:
LD UNISUL – História da Filosofia III, 2011.
Introdução à Filosofia-História e Sistemas, Roberto Rossi, Ed. Loyola, 2004.

De que forma a relação entre magia, religião e ciência expressou o pensamento filosófico da Renascença? Dê, pelo menos, um exemplo que demonstre essa relação.

Considerando a Renascença como a quebra do sentido teocêntrico de mundo para o antropocêntrico, um novo conceito de “humanitas” surge, pelo qual o homem adquire ou readquire valor e consciência de si próprio e do seu passado, com o qual busca romper (ROSSI, 2004). O “estudo da antiguidade grega e latina passa a ser o padrão buscado, um modelo ideal para os humanistas” (TARGA, et al., 2011). Ao longo do Trecento, escritores como Petrarca, Salutati, desenvolvem a independência do pensamento humano, repensando a educação, conclamando a necessidade de se colocar a Filosofia como práxis. No Quatrocento humanistas como Alberti, cuja arte arquitetônica está intrinsecamente focada ao pensamento de uma promoção da paz social, mediante ordenamento urbanístico voltado à hierarquia das classes sociais. Ao mesmo tempo em que constrói edifícios, Alberti configura seu pensamento à “crítica às investigações teológico-metafísicas, que ele considerava sem importância mediante a relevância das questões morais” (ibidem). Valla, por sua vez, assume a figura crítica contra o ascetismo estoico e monástico propugnado pela Igreja, revendo alguns textos considerados como sagrados e que na verdade fundamentavam o poder temporal da mesma Igreja, contra a qual se insurge (Doação de Constantino).
Essa vivência intensa dos humanistas do Trecento e do Quatrocento facilita o surgimento do que se convencionou chamar de “visão mágica do mundo”, não mais sujeito às ordenações teocêntricas, mas à observação da vida como ela se apresenta na Natureza – poderíamos chamar esse momento de um retorno ao período pré-socrático, quando os primeiros pensadores dispensam as ordenações mitológicas de um Olimpo inacessível, para abarcar a observação dos fenômenos naturais da vida como ela se manifesta. Pensa-se numa compreensão do mundo como um misto de “magia, alquimia, filosofia, religião e ciência, que se entrecruzam, compondo um só campo do conhecimento” (ibidem). Acreditava-se que as coisas possuíam poderes ocultos – num retorno aos antigos conceitos de animismo e totemismo (MURPHY, 1952). A figura antológica de TRIMEGISTO, misto de homem-deus (o antigo herói grego, filho de um deus e um mortal); o conceito de que é possível conhecer o Universo a partir do microcosmo, no interior do homem. Ficino também defende a magia advinda do neoplatonismo, “cuja visão concebe a animação universal das coisas e também introduz a noção de um espírito, que está presente no homem e em todas as outras formas” (TARGA, et al., 2011). Inclua-se nesse conceito as presenças de Agripa e Giordano Bruno, que comungavam a noção de que “a totalidade do mundo pode ser reduzida a uma unidade, na qual o natural, o celestial e o espiritual estão entrelaçados” (ibidem).

Sem dúvida nenhuma, aparadas as arestas da contemporaneidade dos seus autores, a sua visão holística de integração homem-natureza por meio das interpretações oriundas das vertentes filosofia-ciência-magia-religião criou raízes na Modernidade e na Contemporaneidade, principalmente entre cientistas e pesquisadores como Fritjof Capra em seu exemplar “A Teia da Vida”.

Fontes Bibliográficas:
LD UNISUL – História da Filosofia III, 2011.
Introdução à Filosofia-História e Sistemas, Roberto Rossi, Ed. Loyola, 2004.
The Origins and History of Religions, John Murphy, Manchester University Press, 1952.
(Disciplina História da Filosofia III - prof. João J. Buss)

Reflexões sobre o Período Helenístico

Foto: Vale do Templo/Agrigento, Magna Grécia

Segunda a ética estóica, tudo o que existe na natureza é dotado de um Lógos (razão) que a governa. É no contexto do Império Romano, mais precisamente no final da Idade Antiga (no próprio período helenístico) que surge o Cristianismo e este vai dizer que tudo o que há no universo, inclusive o homem, é portador de Lógos e este Lógos é Deus.
O estoicismo trouxe a ideia de que tudo na Natureza é governada pela razão (Lógos). “Essa razão pode ser chamada de alma do mundo ou mesmo de Deus. Tudo existe e acontece segundo uma predeterminação rigorosa. Concebida desta forma, a natureza é, em si mesma, justa e divina” (SELL, 2008, p.96). “Viver em conformidade com a razão torna o homem feliz, porque o liberta da escavidão das paixões. O sábio é aquele que não se deixa enganar pelos prazeres, nem se deixa modificar pela dor.” (ibidem, p.197). Seguindo esse raciocínio, podemos encontrar no próprio Evangelho Segundo São João a assertiva de que Jesus é o Lógos, o Verbo encarnado, aquele que vem ao mundo para salvar os homens de seus pecados. Jesus, em sua encarnação na Terra é o princípio divino a partir do qual Deus opera no mundo, ou seja, o Lógos discutido pela Filosofia Antiga vai “encarnar-se” na pessoa do Deus cristão, Jesus Cristo.

Immanuel Kant, pensador da Idade Moderna, ao se referir a Idade Média diz que a mesma é o período da menoridade intelectual. Entretanto, a partir dos dados levantados pela pesquisa histórica, esta tese não alcança mais consenso. Por que desta afirmação ?
Longe de ser um período “das trevas” do pensamento, a Idade Média é considerada, numa analogia de Dilthey, como um caldeirão onde ferviam as ideias; no século IV, na baixa Idade Média, floresceu em Alexandria uma das mais importantes escolas do pensamento, o neo-platonismo, de onde surgiram, de seus seguidores, uma das quais Hypatia, os primeiros momentos de uma ciência desprovida de misticismo. Embora os embates entre religiões, muito comum naquela época, as ideias adentraram os séculos posteriores, e mais precisamente no século XII, com Pedro Abelardo, que, com suas discussões sobre a Trindade colocando a razão em confronto ao dogma, vão criar as sementes posteriores à análise de René Descartes. Na Escolástica medieval há o desenvolvimento do Humanismo, ou estudos humanísticos, “o que equivalia à atualização, dinamização e revitalização dos estudos tradicionais que incluíam a poesia, a filosofia, a história, a matemática e a eloquência.” (SELL, 2008, p.133).

A temática central da chamada filosofia cristã será o embate entre razão e fé. Com base nestes dados explique o seguinte:
a) Em que consiste este embate?
b) Das duas principais escolas filosóficas da Idade Média, a Patrística e a Escolástica, qual logrou maior sucesso na tentativa de conciliação entre fé e razão e por quê?


a) O embate entre fé e razão na verdade inicia-se já na Grécia Antiga, com a busca do arkhé de todas as coisas não no Monte Olimpo com as divindades, mas na própria Natureza, ela mesma fornecedora dos elementos que constituem a criação. Com Sócrates, a discussão se amplia, pois o homem devia buscar nele próprio as respostas às suas mais intrínsecas indagações, muito embora devesse saber que não as tinha todas. Essa discussão se amplia, já no século IV d.C., entre as diversas seitas que existiam no mundo antigo, em confronto com o mundo pagão, mormente em Alexandria (SELL, 2008, p. 25). Longe de haver terminado, Fé e Razão continuaram a enfrentar-se no período medieval, na Escolástica com Pedro Abelardo e na Renascença com Descartes, dentre outros, lançando-se os pilares que dividem ciência e religião, gerando em nossos dias as modalidades Criacionismo e Evolucionismo, esta última com base na Teoria da Evolução das Espécies de Charles Darwin.

b) A Patrística surge num momento histórico de grande influência grega sobre o mundo. Grande parte do pensamento deste período se formou na cultura helênico-romana, o que fez com que fossem estabelecidos vínculos de continuidade entre a filosofia grega e o pensamento cristão. Agostinho é o maior dentre eles, com as tentativas de conciliação do cristianismo com a filosofia platônica. A Escolástica por sua vez, com início propriamente dito no século XI, também teve seu período significativo com Pedro Abelardo. São Tomás de Aquino tenta a conciliação com a filosofia de Aristóteles para a formação da Teologia católica, com sua Suma Teológica.
(Disciplina História da Filosofia I - prof. João J. Buss)

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Que resposta o autor dá à questão título do livro: “O que é Filosofia?”

CAIO PRADO JUNIOR
11-02-1907---23-11-1990


No pensamento de Caio Prado Jr., completamos nossos comentários abaixo postados, de que o verdadeiro objeto da especulação filosófica é o ser cognoscente, como fator determinante e participante da natureza e sua interação com ela. É dessa dialética de que a filosofia se ocupa, a interação entre ambos, como fator gerador do Conhecimento.

(Disciplina Introdução à Filosofia, prof. Marciel E. Cataneo)

Idéia e matéria, Platão e Aristóteles, Idealismo e materialismo, dois caminhos (métodos) diferentes para a filosofia

Detalhe(Platão e Aristóteles): Escola de Atenas (1510), Rafael Sanzio

Ideia e matéria
Os pensadores da Grécia pré-socrática mesclavam ideia e matéria numa mesma conceituação, porém, o segundo na verdade exprimia a projeção do primeiro. União de objetividade com subjetividade, a visão de realidade exprimia nesse caso o pensamento de quem a elaborava, e não a realidade em si mesma: o mundo como um conceito pessoal.
Na verdade, a esfera subjetiva (objeto da Filosofia), reforçada pelo pensamento investigador do sujeito cognoscente e seu conteúdo de conhecimentos elaborados, passa a um outro nível, o da consideração da realidade exterior, objetivo, como objeto da Ciência.
Exemplo desse processo inicial, os físicos da Escola de Mileto, na busca pelo ‘arkhé’, a substância universal, de onde derivavam todas as coisas: e as substâncias buscadas e sugeridas por eles se consubstanciavam na matéria: água, ar, fogo.
Somente com Pitágoras (os números), Heráclito (logos), Anaxágoras (nous), Parmênides (Ser) se alcança essa subjetividade que paira acima da substância meramente visível e palpável, sensível, no dizer de Platão, para buscar no inteligível, a fonte de onde se originam todas as coisas.

Platão e Aristóteles
Platão dá legitimidade ao mundo das ideias, ao proferir a Alegoria da Caverna: nada do que se vê, se toca, compara-se à criação subjetiva, mera cópia imperfeita desta. À primeira, imagens imperfeita e obscuramente reproduzindo a fonte de todo Conhecimento, o mundo das ideias. Portanto, Platão, desta forma e, magistralmente, modifica as conceituações de Ciência e de Filosofia, invertendo a ordem de precedência ou processamento e estrutura do Conhecimento.

No dizer de Prado Jr., Aristóteles vai fazer o caminho inverso, trazendo “as ideias platônicas da esfera supra-sensível em que se encontravam, para as coisas do mundo sensível” (PRADO Jr.1981), confundindo desta forma, “o objeto do Conhecimento com o Conhecimento como objeto” (PRADO, 1981). Na afirmação do autor, Aristóteles causa um desastre conceitual ao integrar as ideias nas próprias coisas da realidade sensível, desastre este que se arrastou durante grande parte da história. Seu método, segundo alguns autores, é antes de tudo, dedutivo e sistemático, atribuindo à racionalidade a única explicação verdadeira para a investigação do objeto.
Aristóteles departamentaliza e sistematiza o Conhecimento por área de atuação científica. Segundo Prado Jr., “o interesse de Aristóteles e a contribuição que oferece se fixam essencialmente não nos fatos, e sim no Conhecimento deles, no Conhecimento em si”, haja vista a obra que completa o seu pensamento, o ORGANON.
Os dois polos da Filosofia moderna, conforme o autor, idealismo e materialismo, repousam nesse problema do Conhecimento. Dois contrastes substanciais, o material em oposição ao ideal, contrapondo-se ao longo da história, porém, como formas de percepção e expressão, unindo-se num mesmo aspecto de visão de Conhecimento.

(Disciplina Introdução à Filosofia - prof. Marciel E. Cataneo)

INTRODUÇÃO À FILOSOFIA, segundo CAIO PRADO JR.



Conforme o texto de Caio Prado Júnior, disserte sobre diferenças entre filosofia e ciência

Segundo o pensador, há diversas definições de Filosofia de acordo com cada autor; a especulação filosófica seria infinita e sem direção, cabendo à ela, Filosofia, nunca resolver questões, mas sugeri-las “e propor problemas” (PRADO Jr.1981), elaborar perguntas unicamente tendo como objetivo a provocação à reflexão. A filosofia ainda permeia os mesmos caminhos da literatura, levando, contudo, apenas estímulos ao objeto básico a que se propõe: indagar.
A Filosofia ainda é tida como um complemento da Ciência e da elaboração cognitiva, como “seu coroamento e síntese” (PRADO Jr.,1981). A bem da verdade, desde a antiguidade os dois enfoques da realidade estiveram estreitamente unidas, até por volta do séc. XVIII.
De acordo com Prado Jr., a Filosofia, como Conhecimento, se ocupa dos mesmos objetos da Ciência, contudo, esta última desenvolve setores do Conhecimento empírico, voltados para a experimentação, quais sejam Ciências sociais e as Ciências físicas. Portanto a Filosofia não pode ser apenas prolongamento da Ciência, pois o objeto de que se ocupa, além dos aspectos factuais da Natureza, é o sujeito cognoscente, aquele que elabora o Conhecimento.
A Filosofia então, seria o conhecimento do Conhecimento. Ainda conforme Prado Jr., “Filosofia e Ciência, distintas quanto à perspectiva em que se respectivamente se colocam, e ao método, ou antes estilo que adotam, se ocupariam uma e outra da mesma Realidade Universal, (..) os objetos respectivos do Conhecimento (Ciência) e o Conhecimento do Conhecimento (Filosofia).” O primeiro (Ciência), o reconhecimento da realidade imediata, o segundo (Filosofia), do conhecimento dessa realidade imediata. O primeiro, observar, o segundo, analisar e deduzir.

Bibliografia: PRADO Jr., Caio. O que é filosofia. São Paulo: Brasiliense, 1981 (Primeiros Passos, 37) Fonte: Disponível no site http://www.culturabrasil.pro.br/oqueefilosofia.htm. Acessado em 25 de fevereiro de 2009. Texto originalmente publicado no Almanaque, nº 4, Ed. Brasiliense, 1977.

(Disciplina Introdução à Filosofia, sob a orientação de Marciel E.Cataneo)