quarta-feira, 22 de agosto de 2012

(cont.) Reflexões sobre o Renascimento, o Humanismo e o prelúdio da Filosofia Moderna

Escola de Atenas (1509/10) - Rafael Sanzio

Durante o Renascimento, houve nos mais variados campos do conhecimento, um renovado interesse nas obras literárias, filosóficas, históricas e de artes plásticas produzidas pelos gregos e pelos romanos na Antiguidade. Além disto, o conhecimento daquele período serviu como modelo inspiração para artistas famosos que desta forma expressam sua admiração pelas realizações dos antigos. Um exemplo é a obra a “Escola de Atenas”, afresco pintado por Rafael Sanzio, entre 1509 a 1510; cm base nos dados apresentados, faça uma pesquisa sobre o quadro em fontes de notória cientificidade e aponte que pensadores são representados no centro do afresco. Feito isto, explique qual papel eles tiveram na filosofia do Renascimento.

No centro do afresco estão em pé Platão (427-347 a.C.), com sua obra Timeu nas mãos, e apontando com um dos dedos da mão direita para cima, gesto que representa a teoria das ideias, abstratas e intangíveis; ao seu lado, Aristóteles (384-322 a.C.), seu discípulo, com a mão direita num gestual em direção à terra, representando a percepção pelos sentidos, traz na mão esquerda o seu livro Ética a Nicômaco.
Fonte de Pesquisa : http://www.dm.ufscar.br/hp/hp902/hp902001/hp902001.html

“Rafael Sanzio foi sábio ao colocar no centro as figuras de Platão e Aristóteles já que ambos de certo modo monopolizam a Filosofia Antiga. Platão segurando o Timeu procura explicar o surgimento do mundo fugindo da explicação mítica. Umas das grandes marcas do pensamento platônico é o contraponto entre o mundo real (imperfeito, mutável) e o mundo inteligível (perfeito, eterno e absoluto, simbolizado pelo sol na Alegoria da Caverna e fonte da verdade, da justiça, das essências, etc...),acessível pela razão. Por isso Platão aparece apontando para o alto. Já Aristóteles, seu discípulo, segura a Ética a Nicômaco e tem a mão na horizontal, representando o terrestre, o mundo sensível e passível de ser conhecido e apreendido pela experiência, pela observação do real, etc. Além disso o mundo justo perseguido por Aristóteles passa pela prática do justo-meio, do equilíbrio e este passa pelas relações humanas.” (João José Buss)

A predominância do pensamento platônico na Renascença vem desde a Antiguidade, contudo a influência de Aristóteles naquele período ainda não foi totalmente avaliada dada a falta de dados que comprovem o alcance de tal influência (TARGA et al., 2011). O Humanismo propiciou o estudo mais abrangente da antiguidade grega e latina, que passaram a ser modelos ideais para os humanistas, que, em sua maioria, “conheciam os clássicos antigos e se formaram dentro da tradição de valorização do pensamento e Aristóteles, (...) predominante nas universidades da época, em que o ensino da filosofia escolástica perdurou até meados do século XVI”(ibidem). No Trecento, foi com Petrarca, considerado o pai do Humanismo que a educação toma novos ares, saindo do método quaestio para o estudo das humanae litterae, preconizando o que, em seu entendimento, era o mais importante, o conhecimento de si, que somente as disciplinas que promovessem conhecimentos, métodos e habilidades intelectuais, como a retórica, a oratória e o estudo das obras clássicas poderiam incentivar. Nota-se aí uma grande influência socrático-platonica.

A partir do século XV e XVI, o florescimento da magia – as coisas possuíam poderes ocultos – o trabalhos dos tradutores, como Marcílio Ficino, com sua abordagem platônica, plotiniana, bem como as tradições neoplatonica e neopitagórica influenciam as pesquisas sobre textos considerados herméticos e de procedência antiga, como os Oráculos Caldeus, e Hinos Órficos, por sua vez procedentes de uma antiga tradição órfica e que teria influenciado Platão e Pitágoras, posteriormente descobertos como sendo do helenismo tardio.
Na Itália, o interesse por Platão e pelos neoplatonistas como autores clássicos predomina sem contudo desprezar-se a influência escolástica sob a base de Aristóteles. A Academia de Florença conhecida como academia platônica reunia, sob a direção de Cosme de Médici escritores, filósofos, músicos e posteriormente artistas das artes plásticas, com especial interesse no mundo antigo.
A presença de Nicolau de Cusa, compreende neste período o lado da religião, que busca nos escritos platônicos, respaldo para o resgate da consciência cristã.
Segundo TARGA, “o filósofo mais discutido e influente no período renascentista foi Platão” (ibidem), considerando, segundo Kristeller, que Aristóteles, associado às estruturas da idade Média, por isso repudiado pelos Humanistas.
A discussão não se encerrou – a influência de ambos, Platão e Aristóteles predomina até os nossos dias; permanecemos todos sentados aos seus pés, como os demais pensadores analogicamente postados na pintura de Rafael, aguardando, na Escola de Atenas, que o seu pronunciamento se faça, e delibere sobre os tempos atuais, tão carentes de aprofundamento, quanto de ética.

Tivemos, como civilização, uma grande história, uma grande jornada até o momento. Fica a pergunta: o que nos impede de alavancar o Conhecimento em profundidade, em detrimento da vulgaridade de superfície que aparece em abundância?

(Disciplina: História da Filosofia III - prof. João J.Buss)

Reflexões sobre o Renascimento, o Humanismo e o prelúdio da Filosofia Moderna

Festim dos Deuses - Giovanne Bellini

Faça uma pesquisa, em fontes devidamente estabelecidas, sobre a relação entre o Renascimento e o Humanismo. Feito isto, elabore um texto, que tenha entre 10 e 15 linhas, explicando em que medida estes fenômenos romperam com a tradição filosófica da época medieval.

Sob o ponto de vista histórico, a Renascença é tida como um período fundador da idade moderna, porém há autores que divergem sobre esta afirmação. A modernidade engloba os primeiros sinais do processo de racionalização da sociedade, estabelecendo-se com o Iluminismo no século 18, porém é no século 19 que esta expressão “renascimento” é cunhada pelo historiador alemão Jacob Burckhardt (TARGA, et al., 2011). O Humanismo, por sua vez, se mescla com os primeiros albores da Renascença, caracterizando este período como aquele onde a valorização do homem superou a valorização teocêntrica vigente na época medieval. Segundo Rossi (ROSSI, 2004), os períodos mais contundentes para a mudança se deram no quatrocento e no quinquecento (ibid), ou seja, final do século 15 e princípio do século 16, com três fatores: a descoberta geográfica de novas terras, feita por Colombo e outros navegadores, a reforma luterana, quebrando a unidade centralizadora de Roma e do papado, e, em 1453 “Copérnico e Kepler substituem o sistema geocêntrico de Ptolomeu pelo heliocêntrico, perdendo a Terra a sua posição central dentro da criação, embora o manuscrito sobre a visão heliocêntrica já estivesse pronto desde 1507, e parcialmente difundido a partir daí” (ROSSI, 2004). Segundo Rossi, não foi por acaso que se juntaram neste momento Humanismo e Renascimento, coincidindo com “um repensar crítico das próprias certezas, à luz das novas situações recém-criadas.” Há uma tendência a “restituir os textos clássicos à sua dimensão histórica, à sua linguagem original”, visto que o período medieval ligou-se aos clássicos (Platão, Aristóteles), no sentido de dar apoio às teses religiosas e as verdades de fé. “O Renascimento constituiu, portanto, um dos mais prósperos movimentos intelectuais do Ocidente, mudando a imagem que o homem tinha de si mesmo (...). O pensamento da época passou a se nutrir cada vez mais da filosofia grega, graças ao trabalho dos humanistas” (TARGA, et al., 2011).
Fontes Bibliográficas:
LD UNISUL – História da Filosofia III, 2011.
Introdução à Filosofia-História e Sistemas, Roberto Rossi, Ed. Loyola, 2004.

De que forma a relação entre magia, religião e ciência expressou o pensamento filosófico da Renascença? Dê, pelo menos, um exemplo que demonstre essa relação.

Considerando a Renascença como a quebra do sentido teocêntrico de mundo para o antropocêntrico, um novo conceito de “humanitas” surge, pelo qual o homem adquire ou readquire valor e consciência de si próprio e do seu passado, com o qual busca romper (ROSSI, 2004). O “estudo da antiguidade grega e latina passa a ser o padrão buscado, um modelo ideal para os humanistas” (TARGA, et al., 2011). Ao longo do Trecento, escritores como Petrarca, Salutati, desenvolvem a independência do pensamento humano, repensando a educação, conclamando a necessidade de se colocar a Filosofia como práxis. No Quatrocento humanistas como Alberti, cuja arte arquitetônica está intrinsecamente focada ao pensamento de uma promoção da paz social, mediante ordenamento urbanístico voltado à hierarquia das classes sociais. Ao mesmo tempo em que constrói edifícios, Alberti configura seu pensamento à “crítica às investigações teológico-metafísicas, que ele considerava sem importância mediante a relevância das questões morais” (ibidem). Valla, por sua vez, assume a figura crítica contra o ascetismo estoico e monástico propugnado pela Igreja, revendo alguns textos considerados como sagrados e que na verdade fundamentavam o poder temporal da mesma Igreja, contra a qual se insurge (Doação de Constantino).
Essa vivência intensa dos humanistas do Trecento e do Quatrocento facilita o surgimento do que se convencionou chamar de “visão mágica do mundo”, não mais sujeito às ordenações teocêntricas, mas à observação da vida como ela se apresenta na Natureza – poderíamos chamar esse momento de um retorno ao período pré-socrático, quando os primeiros pensadores dispensam as ordenações mitológicas de um Olimpo inacessível, para abarcar a observação dos fenômenos naturais da vida como ela se manifesta. Pensa-se numa compreensão do mundo como um misto de “magia, alquimia, filosofia, religião e ciência, que se entrecruzam, compondo um só campo do conhecimento” (ibidem). Acreditava-se que as coisas possuíam poderes ocultos – num retorno aos antigos conceitos de animismo e totemismo (MURPHY, 1952). A figura antológica de TRIMEGISTO, misto de homem-deus (o antigo herói grego, filho de um deus e um mortal); o conceito de que é possível conhecer o Universo a partir do microcosmo, no interior do homem. Ficino também defende a magia advinda do neoplatonismo, “cuja visão concebe a animação universal das coisas e também introduz a noção de um espírito, que está presente no homem e em todas as outras formas” (TARGA, et al., 2011). Inclua-se nesse conceito as presenças de Agripa e Giordano Bruno, que comungavam a noção de que “a totalidade do mundo pode ser reduzida a uma unidade, na qual o natural, o celestial e o espiritual estão entrelaçados” (ibidem).

Sem dúvida nenhuma, aparadas as arestas da contemporaneidade dos seus autores, a sua visão holística de integração homem-natureza por meio das interpretações oriundas das vertentes filosofia-ciência-magia-religião criou raízes na Modernidade e na Contemporaneidade, principalmente entre cientistas e pesquisadores como Fritjof Capra em seu exemplar “A Teia da Vida”.

Fontes Bibliográficas:
LD UNISUL – História da Filosofia III, 2011.
Introdução à Filosofia-História e Sistemas, Roberto Rossi, Ed. Loyola, 2004.
The Origins and History of Religions, John Murphy, Manchester University Press, 1952.
(Disciplina História da Filosofia III - prof. João J. Buss)

Reflexões sobre o Período Helenístico

Foto: Vale do Templo/Agrigento, Magna Grécia

Segunda a ética estóica, tudo o que existe na natureza é dotado de um Lógos (razão) que a governa. É no contexto do Império Romano, mais precisamente no final da Idade Antiga (no próprio período helenístico) que surge o Cristianismo e este vai dizer que tudo o que há no universo, inclusive o homem, é portador de Lógos e este Lógos é Deus.
O estoicismo trouxe a ideia de que tudo na Natureza é governada pela razão (Lógos). “Essa razão pode ser chamada de alma do mundo ou mesmo de Deus. Tudo existe e acontece segundo uma predeterminação rigorosa. Concebida desta forma, a natureza é, em si mesma, justa e divina” (SELL, 2008, p.96). “Viver em conformidade com a razão torna o homem feliz, porque o liberta da escavidão das paixões. O sábio é aquele que não se deixa enganar pelos prazeres, nem se deixa modificar pela dor.” (ibidem, p.197). Seguindo esse raciocínio, podemos encontrar no próprio Evangelho Segundo São João a assertiva de que Jesus é o Lógos, o Verbo encarnado, aquele que vem ao mundo para salvar os homens de seus pecados. Jesus, em sua encarnação na Terra é o princípio divino a partir do qual Deus opera no mundo, ou seja, o Lógos discutido pela Filosofia Antiga vai “encarnar-se” na pessoa do Deus cristão, Jesus Cristo.

Immanuel Kant, pensador da Idade Moderna, ao se referir a Idade Média diz que a mesma é o período da menoridade intelectual. Entretanto, a partir dos dados levantados pela pesquisa histórica, esta tese não alcança mais consenso. Por que desta afirmação ?
Longe de ser um período “das trevas” do pensamento, a Idade Média é considerada, numa analogia de Dilthey, como um caldeirão onde ferviam as ideias; no século IV, na baixa Idade Média, floresceu em Alexandria uma das mais importantes escolas do pensamento, o neo-platonismo, de onde surgiram, de seus seguidores, uma das quais Hypatia, os primeiros momentos de uma ciência desprovida de misticismo. Embora os embates entre religiões, muito comum naquela época, as ideias adentraram os séculos posteriores, e mais precisamente no século XII, com Pedro Abelardo, que, com suas discussões sobre a Trindade colocando a razão em confronto ao dogma, vão criar as sementes posteriores à análise de René Descartes. Na Escolástica medieval há o desenvolvimento do Humanismo, ou estudos humanísticos, “o que equivalia à atualização, dinamização e revitalização dos estudos tradicionais que incluíam a poesia, a filosofia, a história, a matemática e a eloquência.” (SELL, 2008, p.133).

A temática central da chamada filosofia cristã será o embate entre razão e fé. Com base nestes dados explique o seguinte:
a) Em que consiste este embate?
b) Das duas principais escolas filosóficas da Idade Média, a Patrística e a Escolástica, qual logrou maior sucesso na tentativa de conciliação entre fé e razão e por quê?


a) O embate entre fé e razão na verdade inicia-se já na Grécia Antiga, com a busca do arkhé de todas as coisas não no Monte Olimpo com as divindades, mas na própria Natureza, ela mesma fornecedora dos elementos que constituem a criação. Com Sócrates, a discussão se amplia, pois o homem devia buscar nele próprio as respostas às suas mais intrínsecas indagações, muito embora devesse saber que não as tinha todas. Essa discussão se amplia, já no século IV d.C., entre as diversas seitas que existiam no mundo antigo, em confronto com o mundo pagão, mormente em Alexandria (SELL, 2008, p. 25). Longe de haver terminado, Fé e Razão continuaram a enfrentar-se no período medieval, na Escolástica com Pedro Abelardo e na Renascença com Descartes, dentre outros, lançando-se os pilares que dividem ciência e religião, gerando em nossos dias as modalidades Criacionismo e Evolucionismo, esta última com base na Teoria da Evolução das Espécies de Charles Darwin.

b) A Patrística surge num momento histórico de grande influência grega sobre o mundo. Grande parte do pensamento deste período se formou na cultura helênico-romana, o que fez com que fossem estabelecidos vínculos de continuidade entre a filosofia grega e o pensamento cristão. Agostinho é o maior dentre eles, com as tentativas de conciliação do cristianismo com a filosofia platônica. A Escolástica por sua vez, com início propriamente dito no século XI, também teve seu período significativo com Pedro Abelardo. São Tomás de Aquino tenta a conciliação com a filosofia de Aristóteles para a formação da Teologia católica, com sua Suma Teológica.
(Disciplina História da Filosofia I - prof. João J. Buss)