quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Reflexões sobre o Renascimento, o Humanismo e o prelúdio da Filosofia Moderna

Festim dos Deuses - Giovanne Bellini

Faça uma pesquisa, em fontes devidamente estabelecidas, sobre a relação entre o Renascimento e o Humanismo. Feito isto, elabore um texto, que tenha entre 10 e 15 linhas, explicando em que medida estes fenômenos romperam com a tradição filosófica da época medieval.

Sob o ponto de vista histórico, a Renascença é tida como um período fundador da idade moderna, porém há autores que divergem sobre esta afirmação. A modernidade engloba os primeiros sinais do processo de racionalização da sociedade, estabelecendo-se com o Iluminismo no século 18, porém é no século 19 que esta expressão “renascimento” é cunhada pelo historiador alemão Jacob Burckhardt (TARGA, et al., 2011). O Humanismo, por sua vez, se mescla com os primeiros albores da Renascença, caracterizando este período como aquele onde a valorização do homem superou a valorização teocêntrica vigente na época medieval. Segundo Rossi (ROSSI, 2004), os períodos mais contundentes para a mudança se deram no quatrocento e no quinquecento (ibid), ou seja, final do século 15 e princípio do século 16, com três fatores: a descoberta geográfica de novas terras, feita por Colombo e outros navegadores, a reforma luterana, quebrando a unidade centralizadora de Roma e do papado, e, em 1453 “Copérnico e Kepler substituem o sistema geocêntrico de Ptolomeu pelo heliocêntrico, perdendo a Terra a sua posição central dentro da criação, embora o manuscrito sobre a visão heliocêntrica já estivesse pronto desde 1507, e parcialmente difundido a partir daí” (ROSSI, 2004). Segundo Rossi, não foi por acaso que se juntaram neste momento Humanismo e Renascimento, coincidindo com “um repensar crítico das próprias certezas, à luz das novas situações recém-criadas.” Há uma tendência a “restituir os textos clássicos à sua dimensão histórica, à sua linguagem original”, visto que o período medieval ligou-se aos clássicos (Platão, Aristóteles), no sentido de dar apoio às teses religiosas e as verdades de fé. “O Renascimento constituiu, portanto, um dos mais prósperos movimentos intelectuais do Ocidente, mudando a imagem que o homem tinha de si mesmo (...). O pensamento da época passou a se nutrir cada vez mais da filosofia grega, graças ao trabalho dos humanistas” (TARGA, et al., 2011).
Fontes Bibliográficas:
LD UNISUL – História da Filosofia III, 2011.
Introdução à Filosofia-História e Sistemas, Roberto Rossi, Ed. Loyola, 2004.

De que forma a relação entre magia, religião e ciência expressou o pensamento filosófico da Renascença? Dê, pelo menos, um exemplo que demonstre essa relação.

Considerando a Renascença como a quebra do sentido teocêntrico de mundo para o antropocêntrico, um novo conceito de “humanitas” surge, pelo qual o homem adquire ou readquire valor e consciência de si próprio e do seu passado, com o qual busca romper (ROSSI, 2004). O “estudo da antiguidade grega e latina passa a ser o padrão buscado, um modelo ideal para os humanistas” (TARGA, et al., 2011). Ao longo do Trecento, escritores como Petrarca, Salutati, desenvolvem a independência do pensamento humano, repensando a educação, conclamando a necessidade de se colocar a Filosofia como práxis. No Quatrocento humanistas como Alberti, cuja arte arquitetônica está intrinsecamente focada ao pensamento de uma promoção da paz social, mediante ordenamento urbanístico voltado à hierarquia das classes sociais. Ao mesmo tempo em que constrói edifícios, Alberti configura seu pensamento à “crítica às investigações teológico-metafísicas, que ele considerava sem importância mediante a relevância das questões morais” (ibidem). Valla, por sua vez, assume a figura crítica contra o ascetismo estoico e monástico propugnado pela Igreja, revendo alguns textos considerados como sagrados e que na verdade fundamentavam o poder temporal da mesma Igreja, contra a qual se insurge (Doação de Constantino).
Essa vivência intensa dos humanistas do Trecento e do Quatrocento facilita o surgimento do que se convencionou chamar de “visão mágica do mundo”, não mais sujeito às ordenações teocêntricas, mas à observação da vida como ela se apresenta na Natureza – poderíamos chamar esse momento de um retorno ao período pré-socrático, quando os primeiros pensadores dispensam as ordenações mitológicas de um Olimpo inacessível, para abarcar a observação dos fenômenos naturais da vida como ela se manifesta. Pensa-se numa compreensão do mundo como um misto de “magia, alquimia, filosofia, religião e ciência, que se entrecruzam, compondo um só campo do conhecimento” (ibidem). Acreditava-se que as coisas possuíam poderes ocultos – num retorno aos antigos conceitos de animismo e totemismo (MURPHY, 1952). A figura antológica de TRIMEGISTO, misto de homem-deus (o antigo herói grego, filho de um deus e um mortal); o conceito de que é possível conhecer o Universo a partir do microcosmo, no interior do homem. Ficino também defende a magia advinda do neoplatonismo, “cuja visão concebe a animação universal das coisas e também introduz a noção de um espírito, que está presente no homem e em todas as outras formas” (TARGA, et al., 2011). Inclua-se nesse conceito as presenças de Agripa e Giordano Bruno, que comungavam a noção de que “a totalidade do mundo pode ser reduzida a uma unidade, na qual o natural, o celestial e o espiritual estão entrelaçados” (ibidem).

Sem dúvida nenhuma, aparadas as arestas da contemporaneidade dos seus autores, a sua visão holística de integração homem-natureza por meio das interpretações oriundas das vertentes filosofia-ciência-magia-religião criou raízes na Modernidade e na Contemporaneidade, principalmente entre cientistas e pesquisadores como Fritjof Capra em seu exemplar “A Teia da Vida”.

Fontes Bibliográficas:
LD UNISUL – História da Filosofia III, 2011.
Introdução à Filosofia-História e Sistemas, Roberto Rossi, Ed. Loyola, 2004.
The Origins and History of Religions, John Murphy, Manchester University Press, 1952.
(Disciplina História da Filosofia III - prof. João J. Buss)

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