quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Reflexões sobre o Período Helenístico

Foto: Vale do Templo/Agrigento, Magna Grécia

Segunda a ética estóica, tudo o que existe na natureza é dotado de um Lógos (razão) que a governa. É no contexto do Império Romano, mais precisamente no final da Idade Antiga (no próprio período helenístico) que surge o Cristianismo e este vai dizer que tudo o que há no universo, inclusive o homem, é portador de Lógos e este Lógos é Deus.
O estoicismo trouxe a ideia de que tudo na Natureza é governada pela razão (Lógos). “Essa razão pode ser chamada de alma do mundo ou mesmo de Deus. Tudo existe e acontece segundo uma predeterminação rigorosa. Concebida desta forma, a natureza é, em si mesma, justa e divina” (SELL, 2008, p.96). “Viver em conformidade com a razão torna o homem feliz, porque o liberta da escavidão das paixões. O sábio é aquele que não se deixa enganar pelos prazeres, nem se deixa modificar pela dor.” (ibidem, p.197). Seguindo esse raciocínio, podemos encontrar no próprio Evangelho Segundo São João a assertiva de que Jesus é o Lógos, o Verbo encarnado, aquele que vem ao mundo para salvar os homens de seus pecados. Jesus, em sua encarnação na Terra é o princípio divino a partir do qual Deus opera no mundo, ou seja, o Lógos discutido pela Filosofia Antiga vai “encarnar-se” na pessoa do Deus cristão, Jesus Cristo.

Immanuel Kant, pensador da Idade Moderna, ao se referir a Idade Média diz que a mesma é o período da menoridade intelectual. Entretanto, a partir dos dados levantados pela pesquisa histórica, esta tese não alcança mais consenso. Por que desta afirmação ?
Longe de ser um período “das trevas” do pensamento, a Idade Média é considerada, numa analogia de Dilthey, como um caldeirão onde ferviam as ideias; no século IV, na baixa Idade Média, floresceu em Alexandria uma das mais importantes escolas do pensamento, o neo-platonismo, de onde surgiram, de seus seguidores, uma das quais Hypatia, os primeiros momentos de uma ciência desprovida de misticismo. Embora os embates entre religiões, muito comum naquela época, as ideias adentraram os séculos posteriores, e mais precisamente no século XII, com Pedro Abelardo, que, com suas discussões sobre a Trindade colocando a razão em confronto ao dogma, vão criar as sementes posteriores à análise de René Descartes. Na Escolástica medieval há o desenvolvimento do Humanismo, ou estudos humanísticos, “o que equivalia à atualização, dinamização e revitalização dos estudos tradicionais que incluíam a poesia, a filosofia, a história, a matemática e a eloquência.” (SELL, 2008, p.133).

A temática central da chamada filosofia cristã será o embate entre razão e fé. Com base nestes dados explique o seguinte:
a) Em que consiste este embate?
b) Das duas principais escolas filosóficas da Idade Média, a Patrística e a Escolástica, qual logrou maior sucesso na tentativa de conciliação entre fé e razão e por quê?


a) O embate entre fé e razão na verdade inicia-se já na Grécia Antiga, com a busca do arkhé de todas as coisas não no Monte Olimpo com as divindades, mas na própria Natureza, ela mesma fornecedora dos elementos que constituem a criação. Com Sócrates, a discussão se amplia, pois o homem devia buscar nele próprio as respostas às suas mais intrínsecas indagações, muito embora devesse saber que não as tinha todas. Essa discussão se amplia, já no século IV d.C., entre as diversas seitas que existiam no mundo antigo, em confronto com o mundo pagão, mormente em Alexandria (SELL, 2008, p. 25). Longe de haver terminado, Fé e Razão continuaram a enfrentar-se no período medieval, na Escolástica com Pedro Abelardo e na Renascença com Descartes, dentre outros, lançando-se os pilares que dividem ciência e religião, gerando em nossos dias as modalidades Criacionismo e Evolucionismo, esta última com base na Teoria da Evolução das Espécies de Charles Darwin.

b) A Patrística surge num momento histórico de grande influência grega sobre o mundo. Grande parte do pensamento deste período se formou na cultura helênico-romana, o que fez com que fossem estabelecidos vínculos de continuidade entre a filosofia grega e o pensamento cristão. Agostinho é o maior dentre eles, com as tentativas de conciliação do cristianismo com a filosofia platônica. A Escolástica por sua vez, com início propriamente dito no século XI, também teve seu período significativo com Pedro Abelardo. São Tomás de Aquino tenta a conciliação com a filosofia de Aristóteles para a formação da Teologia católica, com sua Suma Teológica.
(Disciplina História da Filosofia I - prof. João J. Buss)

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